sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cardeal chinês explica como a Igreja Católica sofre perseguição na China

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Cardeal Zen Ze-kiun 

Tanto a abertura econômica da China quanto a opressão religiosa são necessárias para a sobrevivência do Partido Comunista chinês, afirmou hoje o cardeal  Joseph Zen-Kiun, bispo emérito de Hong Kong.
Em conferência realizada em Roma pelo Acton Institute para discutir a relação entre liberdade econômica e liberdade religiosaDom Zen fez fortes críticas ao modelo de desenvolvimento chinês e à intervenção do governo nas atividades da Igreja. 
“Gosto de esperar que o Papa Francisco possa realizar na China o mesmo milagre que João Paulo II fez na Checoslováquia”, declarou o bispo, referindo-se à contribuição de João Paulo II para a queda do regime comunista na União Soviética e a uma intensa participação do Papa na igreja clandestina daquele período. ”Ele transformou a Igreja de algo temeroso ao regime em uma combatente corajosa.”
O cardeal de 82 anos, nascido em Xangai, relatou a difícil situação da igreja clandestina na China, que funciona sem permissão do governo. A igreja oficial é controlada pelo Partido Comunista. “O governo força nosso povo a agir contra a sua consciência”, criticou.
Oficialmente, estima-se que haja de 12 a 15 milhões de católicos na China, uma minoria no país de 1,4 bilhão de habitantes. O governo chinês obrigou os católicos a romperem suas relações com o Vaticano em 1951 e, seis anos depois, criou quase que uma igreja própria, tida como oficial, e chamada Associação Católica Patriótica Chinesa (ACCP, em inglês). Desde então, os cristãos da China enfrentam o dilema entre seguirem a Igreja Católica Apostólica Romana na clandestinidade ou ceder às exigências do governo e frequentar as atividades da ACCP.  Desde o fim de 2010, a China voltou a ordenar bispos sem a nomeação do Papa. Essa prática havia sido interrompida em 2006. A partir daquele ano, num acordo informal, os bispos ordenados eram aceitos tanto pelo Papa quanto pelo governo.
Segundo o cardeal, o Papa Bento XVI procurou dialogar com o governo chinês para garantir maior liberdade religiosa. “Ele não poderia ter feito mais pela Igreja da China. Enviou em 2007 uma carta e uma comissão especial. Mas a igreja já estava em uma situação lastimável”, comentou. ”Não há uma conferência episcopal e a Associação Católica é um instrumento do Partido. Eles pagam os bispos para fazer parte do governo. Alguns são obrigados, outros são oportunistas. Mais do que sofrer pressão, os bispos da China são humilhados.”
O bispo emérito de Hong Kong disse, ainda, que a abertura econômica na China foi acompanhada pela forte corrupção no país. “A corrupção vem do poder. Poder absoluto causa corrupção absoluta”, comparou. “Sou um homem velho e não posso esperar muito para ver mais liberdade na China.”
Segundo Dom Zen, a abertura econômica na China não é um milagre, pois ocorreu com base na violação de direitos humanos, como a exploração do trabalho de baixo custo. “Quem se beneficiou desse milagre?”, questionou, lembrando a frase do líder reformista da China Deng Xiaping “Deixemos alguns ficarem ricos primeiro”. Para o cardeal, uma verdadeira reforma econômica chinesa deveria envolver também uma reforma política. “Poder e dinheiro são inseparáveis. E o poder está nas mãos do Partido.”

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