Aquilino
Polaino-Lorente é médico pela Universidade de Granada. Posteriormente,
estudou Psicologia clínica na Complutense de Madri. É doutor em Medicina
pela Universidade de Sevilha. Também se formou em Filosofia na
Universidade de Navara. Ampliou seus estudos em diversas instituições de
educação superior europeias e americanas. De 1978 a 2004, foi
catedrático de Psicopatologia na Universidade Complutense e atualmente é
docente da mesma disciplina na Universidade San Pablo, na capital espanhola.
Escreveu
numerosos artigos e livros, especialmente sobre os problemas
psicológicos infantis e juvenis, assim como familiares. É membro de
academias de Medicina de várias cidades espanholas, colaborador de
diversos organismos e, pelo seu trabalho e sua bagagem intelectual, já
recebeu várias distinções.
O professor
Polaino explicou como uma correta visão da sexualidade, na qual devem
integrar-se o amor, a abertura à vida e o prazer, pode levar a entender
também o sentido do celibato sacerdotal, ao qual são chamadas algumas
pessoas para estarem mais disponíveis para o apostolado e para viver o
amor universal.
“Deus não
pede coisas impossíveis a quem chama para o seu serviço”, disse em sua
intervenção, referindo-se ao tema central do congresso.
-O celibato sacerdotal é psicologicamente perigoso?
Aquilino Polaino:
Não é nada perigoso, porque talvez entenda muito bem como é a estrutura
antropológica realista da condição humana. Tem suas dificuldades, como é
lógico, já que a natureza humana está um pouco deteriorada e é preciso
integrar todas as dimensões. Eu acho mais perigoso o comportamento
sexual aberto, não normativo, no qual vale tudo; acho que isso tem
consequências mais desestruturadores da personalidade do que o celibato
bem vivido em sua plenitude, sem rupturas ou fragmentações.
-Que meios o sacerdote deve por para ser fiel ao voto do celibato durante todos os dias da sua vida?
Aquilino Polaino:
A tradição da Igreja oferece muitíssimos conselhos que podem ser
aplicados e que são eficazes: por exemplo, a guarda do coração e da
vista. O que os olhos não veem o coração não se sente. Tampouco se trata
de andar olhando para o chão, mas é possível ver sem enxergar. Isso
garante a limpeza do coração e, além disso, a vivência do primeiro
mandamento, que é amar a Deus sobre todas as coisas. Em uma panela de
pressão não entram mosquitos. Um coração satisfeito não anda com
mesquinhez nem com fragmentações.
-Você
acha que a cultura hedonista deste novo século, tão difundida na mídia,
influencia no fato de que alguns sacerdotes não sejam fiéis ao voto do
celibato?
Aquilino Polaino:
É possível, porque a fragilidade da condição humana também é vivida
pelos sacerdotes. Penso que é preciso prestar mais atenção ao imenso
número de sacerdotes fiéis à sua vocação. A exceção também se dá na vida
sacerdotal, mas é exceção. Ainda que no jornalismo seja muito correto
focar a exceção, não podemos ser cegos aos muitíssimos sacerdotes que
são leais, que vivem sua vocação plenamente, que são felizes e aos quais
o mundo deve sua felicidade. Isso é que precisa ser enfatizado.
-Uma reta visão da sexualidade pode proporcionar uma reta visão da vida celibatária?
Aquilino Polaino:
Sim. Penso que a sexualidade hoje é uma função muito confusa, é uma
faculdade sobre a qual há mais erros que pontos de acordo sobre o que é a
natureza humana e talvez seja um programa para ensinar em todas as
idades, porque, como é um dos eixos fundamentais da vida humana, se não
for bem atendido, se as pessoas não estiverem bem formadas, o que
viverão é a confusão reinante. Isso afeta tanto seminaristas como
pessoas jovens, noivos. Esta educação hoje é uma educação para a vida. É
uma matéria que às vezes se ensina mal, porque são ensinados os erros e
isso é confundir ainda mais, ao invés de explicar esta matéria com
rigor científico que tenha fundamento na natureza humana.
-O que significa o sacerdote ser chamado a ser pai espiritual?
Aquilino Polaino:
Penso que este é um dos temas pouco aprofundados. A paternidade
espiritual também deve ser vivida pelos pais biológicos e muitos deles
jamais ouviram falar disso. A paternidade espiritual é, de certa forma,
viver todas as obras de misericórdia: consolar o triste, redimir o
cativo, ser hospitaleiro, afirmar o outro no que vale, evitar-lhe
problemas, estimulá-lo e motivá-lo para que cresça pessoalmente,
incentivar o aparecimento de valores que ele já tem, porque vieram com
sua natureza, mas talvez não tenha sabido encontrá-los nem fazê-los
crescer. Penso que este mundo está órfão dessa paternidade e dessa maternidade espiritual; e acho que é uma dimensão que o sacerdote, quase sem perceber o que faz, já vive.
-A vida celibatária pode tornar esta paternidade espiritual mais fecunda?
Aquilino Polaino:
Necessariamente sim, porque há mais tempo e disponibilidade. Se o
objetivo final é a união com Deus, a paternidade espiritual adquire mais
sentido, porque é a melhor imagem da paternidade divina no mundo
contemporâneo; portanto, está como mediador e, na medida em que viver a
filiação divina, também viverá muito bem a paternidade espiritual.
Carmen Elena Villa, Fonte: Zenit Org.
Belíssimo artigo! Em uma linguagem, simples e objetiva desmistifica o celibato sacerdotal sem omitir as possibilidade de quebra do mesmo, mas ressaltando a fidelidade da maioria.
ResponderExcluirA vida sacerdotal é uma opção e não uma obrigação, ninguém é obrigado a ser padre. Vc é chamado, portanto torna-se sacerdote por livre escolha... então o celibato está enquadrado nesta livre escolha. É muito belo! Belo quando o sacerdote se sente realizado e pleno na Graça de Deus. Aí não haverá quebra do voto, como não haverá a quebra de fidelidade no matrimônio, e... a quebra não ocorrerá se o amor for o selo dessa união. Assim o celibato é realmente belo e pode ser vivido em sua plenitude.