Não
vamos estragar a vida dos nossos filhos se desmitificarmos a magia do
Natal, mas sim se os deixarmos crescer sem esperança e sem Deus
O
artigo seguinte foi publicado originalmente na edição árabe de ZENIT
como resposta a algumas perguntas de leitores. A resposta é
bem-humorada, mas aborda “a séria questão da fé em Cristo”.
Um leitor nos perguntou: “Vou estragar a infância do meu filho se contar a ele que o Papai Noel não existe?”.
A
resposta para esta pergunta não requer uma especialização em teologia,
como vocês podem imaginar. Mas vale a pena respondê-la para refletirmos
melhor sobre o significado do santo Natal, questionar alguns escrúpulos
infundados e salvaguardar o que é essencial.
A minha resposta é
sim, revelar que o Papai Noel não existe vai estragar a magia da
infância dos seus filhos. Mas só se o Natal, para eles, for apenas uma
questão de presentes e de contos e lendas. Vai estragar a infância dos
seus filhos se o Papai Noel for “o único mediador” do afeto em família, o
único elemento de surpresa e a única novidade que encerra o ano. Vai
estragar a infância dos seus filhos se eles foram criados com a ideia de
um deus carrasco, inquisidor, inspetor, que tudo vê (ou pior, que só vê
os pecados). Um Jesus que vem castigar você de noite, etc. Neste caso,
se você matar o “Bom Velhinho”, vai arruinar o último totem do Natal dos
seus filhos.
Já se você quiser abrir para eles um “caminho
melhor”, a minha resposta é não, absolutamente não vai estragar a
infância dos seus filhos se contar a eles que o Papai Noel não existe.
Vamos imaginar um cenário alternativo: você pode conversar com eles,
numa linguagem simples, compreensível e atraente, sobre a beleza de um
Deus que amou tanto o mundo, mas tanto, que nos deu de presente não
somente todas as coisas, mas também o nosso próprio ser e, acima de
tudo, deu a Si mesmo como presente para nós! Nesta conversa, os
evangelhos da infância são uma leitura extraordinária para fazer à noite
com os filhos.
Há uma imensa magia em contar a verdade sobre o
Amor e sobre a sua gratuidade, que não é um mito surreal, mas a “verdade
do mundo” e o “coração do mundo”. Este é “o amor que move o sol e as
outras estrelas”.
E por que não explicar aos filhos que os
presentes colocados embaixo da árvore são um símbolo minúsculo do grande
presente de Deus para a humanidade, o seu próprio Filho, Jesus Cristo?
Por
que não explicar que, apesar da crise, os pais, tios e tias, avôs e
avós se prodigalizam para dar presentes não tanto pelos presentes em si,
mas porque aprendemos de Jesus que há mais alegria em dar do que em
receber e porque a fé nos ensina a beleza de estar juntos sob o mesmo
teto?
Por que não ajudar a entender que o Papai Noel é um conto
útil para nos lembrar de uma realidade muito mais bonita do que a
ficção, a dos santos (neste caso, São Nicolau), que abrem os corações à
generosidade para com o próximo, porque eles foram visitados e tocados
pelo amor de Jesus, que nos amou primeiro?
O santo bispo Nicolau
amava as crianças gratuitamente, não como o Papai Noel do meu bairro,
que anunciava num cartaz: “Agende no parque da cidade a distribuição dos
seus presentes com o Papai Noel!”. E completava, em letras menores: “A
partir de 3 euros por presente”.
Você não vai estragar a infância
dos seus filhos se, no lugar do bonachão desconhecido e imaginário,
sintonizar a imagem de Deus e a imagem do Menino do presépio, eliminando
aquela imagem de Deus como o Grande Inquisidor. Lembre-se: quem vê
Jesus, vê o Pai. E falar dessa Criança é usar a melhor palavra para
apresentar Deus, que é a Palavra.
Você não vai estragar o Natal se
ajudar os seus filhos a terem os sentimentos de uma Teresa de Lisieux,
que, antes de se reunir com o Amor na eternidade, escreveu: “Não posso
temer um Deus que se tornou tão pequeno por mim… Eu o amo… porque ele é o
próprio amor e ternura”.
O caso do Papai Noel é uma questão muito pessoal.
No
ano passado, eu estava com meu filho de três anos fazendo compras de
última hora para o Natal. O pequenino percebeu que havia muitos Papais
Noéis por aí, de vários tamanhos e em vários estágios de dieta. Ele
próprio ficou em dúvida. Foi uma boa oportunidade de explicar a ele as
várias coisas que mencionei acima… E até agora eu não senti a
necessidade de mandá-lo para o psicólogo.
Você não vai estragar a
vida dos seus filhos se desmitificar o Papai Noel. Não são os mitos que
nos dão a vida, a alegria e a serenidade. Vamos estragar a vida dos
nossos filhos se os deixarmos viver sem amor, crescerem como se Deus não
existisse, como se Cristo fosse apenas um acessório da sua própria
festa de nascimento. Vamos estragar a vida dos nossos filhos se eles
crescerem sem esperança e sem Deus neste mundo.
Um canto religioso
libanês termina assim: “Sem você, a minha felicidade não é plena. Sem
você, a minha mesa está vazia”. O Pão do Céu, nascido na “Casa do Pão”
(que é o significado literal da palavra “Belém”), é o centro e o sentido
da festa. Sem ele, os “acompanhamentos” não saciam. Ele é o desejo de
todos os nossos desejos. Percebemos a sua importância nestas palavras
transbordantes de desejo de Isaías, 9: “O povo que caminhava nas
trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da escuridão,
uma luz começou a brilhar. Multiplicaste a alegria, aumentaste a
felicidade. Alegram-se diante de ti como se alegram nas colheitas (…)
Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…), o príncipe
da paz”.
Robert Cheaib
Fonte: ZENIT
Nenhum comentário:
Postar um comentário