O Papa Francisco mostra cartão no qual se lê
‘todos juntos contra o trabalho infantil’ durante
audiência desta quarta-feira (11) na Praça São
Pedro (Foto: Vincenzo Pinto/AFP)
‘todos juntos contra o trabalho infantil’ durante
audiência desta quarta-feira (11) na Praça São
Pedro (Foto: Vincenzo Pinto/AFP)
O Papa Francisco voltou a criticar em uma entrevista o modelo econômico
atual, que "alimenta uma cultura do descarte", especialmente contra os
jovens e os idosos.
"A economia se move pelo afã de ter mais e, paradoxalmente, se alimenta
uma cultura do descarte. Os jovens são descartados quando se limita a
natalidade. Os idosos também são descartados porque não servem mais, não
produzem", afirmou o pontífice argentino em uma entrevista ao jornal
"La Vanguardia", de Barcelona.
"Ao descartar os jovens e os idosos, se descarta o futuro de um povo
porque os jovens vão seguir com força para a frente e porque os idosos
nos dão a sabedoria, têm a memória deste povo e devem passá-la aos
jovens", completou Francisco.
O líder espiritual católico se mostrou muito preocupado com o
desemprego entre os jovens que afeta a economia europeia, com países
como a Espanha com mais da metade dos jovens sem trabalho.
"Alguém me disse que 75 milhões de europeus com menos de 25 anos estão
desempregados. É uma barbaridade. Mas descartamos toda uma geração por
manter um sistema econômico que não se aguenta mais", lamentou.
"No centro de todo sistema econômico deve estar o homem, o homem e a
mulher, e tudo o mais deve estar a serviço deste homem. Mas nós
colocamos o dinheiro no centro, o deus dinheiro. Caímos em um pecado de
idolatria", afirmou o pontífice.
No dia 9 de maio, o Papa manifestou a preocupação em um discurso no Vaticano
diante de uma delegação da ONU liderada pelo secretário-geral Ban
Ki-Moon, a quem pediu uma mobilização a favor da ética mundial contra as
injustiças econômicas.
Preocupação com movimentos separatistas Na mesma entrevista, o
pontífice disse que está preocupado com os movimentos separatistas na
Europa, em particular na Escócia (Reino Unido) e Catalunha (Espanha).
"Toda divisão me preocupa", afirmou o Papa.
Francisco diferenciou as independências por emancipação das ex-colônias
dos impérios europeus, como aconteceu nos países americanos, e as
independências por secessão como no caso da ex-Iugoslávia.
"Obviamente há povos com culturas tão diversas que nem com cola
poderiam ser unidos. O caso iugoslavo é muito claro, mas eu me pergunto
se é tão claro em outros casos, em outros povos que até agora estiveram
juntos", disse Francisco.
"Temos que estudar caso por caso. Escócia, Padania, Catalunha. Teremos
casos que serão justos e casos que não serão justos, mas a secessão de
uma nação sem um antecedente de unidade forçada deve ser considerada com
muito cuidado", opinou.
No dia 18 de setembro, os escoceses votarão em um referendo para
decidir sobre a independência da região do Reino Unido. Na Catalunha, o
governo nacionalista da região pretende fazer o mesmo em 9 de novembro,
mas não recebeu a aprovação do Executivo central, que não aceita
qualquer tipo de consulta.
Risco sem o papamóvel
O Papa Francisco admitiu ainda na entrevista o risco que sofre ao renunciar ao papamóvel blindado, que chama de "lata de sardinhas", mas destacou que na sua opinião não tem muito o que perder em sua idade.
O pontífice argentino de 77 anos recordou que em julho de 2013, as
autoridades do Brasil prepararam um papamóvel com vidro blindado para
sua proteção durante a Jornada Mundial da Juventude.
"Mas eu não posso saudar um povo e dizer que o amo dentro de uma lata de sardinhas, mesmo que seja de vidro", disse.
"Para mim isto é um muro. É verdade que algo pode acontecer comigo, mas
sejamos realistas, na minha idade não tenho muito a perder", completou.
"Sei que algo pode acontecer comigo, mas estão nas mãos de Deus", afirmou.
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