Eu, rede social
Há um certo tempo atrás, duas notícias
tornaram-se alarmantes ao trazerem à tona a realidade existencial de
milhões de adolescentes e jovens. Uma jovem se suicida no Piauí quando
tem um vídeo privado divulgado e difundido entre celulares; o outro fato
é o suicídio de uma jovem mexicana. O que há em comum é que ambas
jovens anunciaram suas mortes em redes sociais, onde receberam centenas
de curtidas e comentários.
A pergunta é: por que tal ação? O que leva jovens ao suicídio?
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o suicídio juvenil é a terceira causa de morte entre pessoas de
15 a 44 anos e o suicídio anunciado por meio das redes sociais tem
crescido em muitos países.
Hoje o dia-a-dia das pessoas exige uma
velocidade muito maior do que há anos atrás. Os relacionamentos
presenciais foram sendo substituídos pelos virtuais, desencadeando um
afastamento do mundo real. A era da informação e da tecnologia está
lançada! O íntimo, que não era para
ser exposto, mas sim preservado, pois é uma instância de segredo, de
ser “dono de si mesmo”, está sendo substituído por uma compulsão pela
exposição de si nas revistas e nas redes sociais. Na maioria das vezes
essa hiperexposição é o sintoma da angústia do vazio.
É indiscutível o papel desempenhado
pelas redes sociais no âmbito da vida privada, social, política,
comunicacional e profissional. Elas favorecem a interação entre as
pessoas. Dão visibilidade, facilitam a comunicação, o reencontro,
eliminam as extensões territoriais; além de ter um poder ainda
incalculável de convocação e mobilização. As mudanças provocadas pelas
redes sociais não são para o futuro, pois elas são presente e intervêm
significativamente no comportamento das pessoas. A inclusão e a
participação nas redes sociais dá a sensação de ter muitos amigos, de
estar antenado e conectado aos acontecimentos com uma participação
efetiva e eficiente. Tudo isso é uma verdade em termos, pois
essas conexões e realidades são raseiras e instáveis, os relacionamentos
superficiais e temporários e os vínculos momentâneos.
Na “vida” das redes sociais a busca de
novidades é o interesse geral. Os comentários que importam são os seus,
enquanto que os dos outros servem para que se possa expressar a opinião
individual. A imagem que os outros têm é essencial e a aceitação também.
Daí a exposição com fotos, informações de viagens, atividades, emoções e
sentimentos. É a sensação de ser querido e bem aceito pelas curtidas e
comentários na foto escolhida a dedo dentre as infinidades de álbuns. Há
uma disputa de quem aparenta levar uma vida mais bacana, mais
interessante e mais feliz. Quando se posta uma foto, a pessoa revela um fragmento daquilo que se deseja que os outros definam e aceitem.
Cada um busca ser mais brilhante, interessante e atraente do que o outro. Nesta
empreitada muitos são os seguidores e “amigos”, mas os usuários mais
sensatos sabem que são poucos aqueles com os quais se podem contar. O
resultado de tudo isso é frustração, solidão e incapacidade de lidar com
seus próprios sentimentos.
O nível de suicídio entre os jovens
revela que não se está preparado para lidar com as frustrações em meio
ao narcisismo da cultura e da mentalidade de que somos sempre o centro
do universo e da realidade. A pobreza da vida interior presente
no coração das pessoas não encontrará a solução por meio da tecnologia e
da posse de bens materiais.
A solidão no século 21 bate à porta de
inúmeras pessoas cercadas de “amigos” virtuais. Ao mesmo tempo que os
comentários em um post estimulam, são eles também capazes de levar a
pessoa à frustração e à necessidade de exposição sem limites, a fim de
encontrar nos milhares de usuários virtuais a aceitação que nem a
própria pessoa tem dela. Gera-se a angústia, a ansiedade, as
frustrações, invejas, raivas, alegrias e curiosidades pelos feedbacks.
Neste emaranhado de relações nas redes
sociais deve-se ir além das superficialidades que elas podem oferecer.
As relações virtuais e superficiais não podem ser capazes de substituir
as reais. O imediatismo do contato pela rede não ultrapassa a grandeza
de cada dia reconhecer no outro suas riquezas, tesouros e dons, de forma
pessoal. O verdadeiro tesouro dos relacionamentos não está na
quantidade, mas o quanto fundo se vai, lançando mutuamente na relação o
seu eu na verdadeira recíproca do descobrir e desvelar no rosto do outro
um amigo e uma amiga.
Autor: Geraldo Trindade – Diácono.
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