segunda-feira, 28 de julho de 2014

‘Acabam de explodir uma bomba em frente a nossa casa’, conta freira em Gaza

0,,17776629_401,00
“Pode me ligar mais tarde? Acabam de explodir duas bombas em frente a nossa casa e me parece prudente ir embora”, desculpou-se com uma calma surpreendente a freira María de la Santa Faz, no convento onde vive no bairro Zeitun, no Oeste de Gaza. Sem que o desespero tomasse conta do templo, a religiosa nascida em Mendoza, na Argentina, ainda esclareceu: “Quando ligar de novo, procure pela irmã Maria ou a irmã argentina, sou a única aqui”. E desligou.
— Aquela era a segunda bomba. E depois ainda houve uma terceira. Foi impressionante, porque foi em frente ao portão da Igreja Católica, onde fica nossa casa. Três bombas sobre a mesna casa, para destruir ela bem — disse a freira ao jornal “La Nación”, horas depois.
A freira Maria e o padre Jorge Hernández, ambos argentinos da família religiosa do Verbo Encarnado, conseguem manter a calma mesmo com o estrondo das bombas e o tremor do solo. Sabem que estão ali para isso: transmitir ainda que seja um pouco de paz em meio à guera aos 1.300 cristão de Gaza, dos quais 10% são católicos o restante, em sua maioria, da Igreja Ortodoxa.
— Ligamos para eles permanentemente para ver como estão, se precisam de algo. Queremos que eles sintam a presença de Deus, que se preocupa com eles — contou a irmã Maria, de 44 anos, que chegou em Gaza em janeiro.
Seu tom de voz calmo deixa entrever, no entanto, sua preocupação. Em duas semanas, mais de 500 palestinos foram mortos como resultado da operação Limite Protetor, uma resposta ao sequestro e assassinato de três estudantes israelenses, que teria sido perpetrado pelo grupo islâmico Hamas, de acordo com Israel. No mesmo período, 27 israelenses foram mortos.
— As crianças estão muito doentes, porque estão com medo. As pessoas se resignam porque viveram isso várias vezes. Eles já passaram por isso e me dizem: ‘Irmão, você vai se acostumar’. Eles falam com uma certa tristeza.
O pesar voltou à voz de Maria, quando ela se lembrou de que até duas semanas atrás recebia mais de 100 crianças na igreja, numa uma escola de verão.
— Tínhamos atividades muito agradáveis, cerca de 130, 140 crianças passam quatro dias por semana aqui. Antes as explosões eram ouvidas, mas se vivia normalmente. Mas na última terça-feira, quando as crianças chegaram uma grande explosão foi ouvida. Então os pais vieram buscá-los. Alguns nós levamos para a casa. Desde então, acabou — lamentou.
No prédio da Igreja Católica funciona durante o ano letivo um colégio, outra igreja e um pequeno cemitério, o convento Santas Valetina e Tea — onde vivem Maria e uma freira brasileira e outra egípcia —, uma casa onde vivem o padre Hernández e outro sacerdote brasileiro do Instituto do Verbo Encarnado, e uma casa para as Irmãs de Madre Teresa, que abriga seis religiosas e 37 crianças portadoras de deficiência.
Desde que a operação israelense começou, a Paróquia Sagrada Família é pouca visitada. Somente em duas oportunidades recebeu os paroquianos: no primeiro domingo desde que o bombardeio começou, quando eram apenas “cinco corajosos” na missa, e na quinta-feira passada, durante uma trégua humanitária de duas horas.
“A população aproveitou para se abastecer de elementos básicos. Alguns paroquianos pediram para que celebrássemos a missa”, escreveu padre Jorge, pároco de Gaza desde 2009, na página no Instituto do Verbo Encarnado no Oriente Médio.
Horas depois, recebeu uma palavra de consolo muito esperada: a do Papa Francisco.
“Estou com vocês e todas as freiras da comunidade católica. Os acompanho na oração. Que Jesus os abençoe e a Virgem Santa os cuide”, escreveu Francisco, em um texto que logo foi traduzido para o árabe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário