domingo, 22 de fevereiro de 2015

50 Tons de cinza: Pornografia sutil que reforça visão deformada da sexualidade humana

el-masoquismo-de-sufrir-por-todo
O lançamento do filme “50 Tons de Cinza” nos EUA foi um evento bem comentado e lamentável nos últimos dias, como muitos cristãos podem perceber. O que o filme representa é nada menos do que a evolução da pornografia em uma idade cada vez mais distante de uma visão bíblica da sexualidade e da dignidade humana.
Uma das marcas da cosmovisão cristã é uma afirmação da unidade dos transcendentais – o bom, o belo e o verdadeiro. O Cristianismo afirma – e exige – que o bom, o belo e o verdadeiro sejam, na verdade, um só, unidos em sua fonte. A fonte do que é bom, belo e verdadeiro não é outra, senão o próprio Deus, o único que é infinitamente bom, belo e verdadeiro. O nosso próprio conhecimento de beleza, bondade e verdade surgem devidos aos presentes da revelação e da criação de Deus. Ele define o bem, a verdade, e a beleza por seu ser, e estes são unificados nEle.
Isto significa que os cristãos acreditam na verdade radical que nada de bom pode ser feio, que nada falso pode ser bonito, e que tudo o que é belo e verdadeiro também é bom.
Tentar uma separação entre o bom, o verdadeiro e o belo, pela compreensão cristã, é algo impossível e auto-destrutivo. 
Por esta razão, a cosmovisão cristã insiste que o rosto de uma criança com síndrome de Down é infinitamente mais bonito que uma modelo retocada na capa de uma revista de moda. A modelo pode ser bonita, mas porque todo ser humano é belo, simplesmente em virtude de ser feito à imagem de Deus. Esta base de pontos da dignidade humana ao fato da nossa criação por um Deus amoroso e misericordioso, que nos fez à sua imagem, e revelou esta verdade em nossa própria existência e na nossa capacidade de conhecê-lo. Ele revelou esta verdade explicitamente na Sagrada Escritura, e isso significa que cada ser humano, em todas as fases de desenvolvimento, possui plena dignidade humana.
A corrupção do presente que o sexo é, mais do que muitas vezes percebida, um assalto à dignidade humana, que é o dom do Criador. A tentativa de declarar beleza em detrimento do bem e da verdade é o cerne do problema da pornografia. Agora, nós vivemos em uma sociedade que está perdendo rapidamente até mesmo um sentimento de vergonha sobre suas obsessões pornográficas.
As vendas explosivas da série de livros “50 Tons de Cinza” têm alertado muitos cristãos ao fato da sexualidade feminina “orientada” pela pornografia. Embora muito mais atenção tenha sido dedicada à natureza visual da maioria da pornografia de orientação masculina, o fenômeno “50 Tons” sublinhou a integração pública de pornografia que iria encontrar um público primário entre as mulheres – com pornografia narrativa em forma de livro.
Enquanto muitos haviam notado a atração destes chamados “romances” por parte de muitas mulheres, achegada da série “50 Tons” anunciou que a cultura em geral estava pronta para mudar para o que só pode ser descrito como explicitamente pornográfica. Além disso, o enredo da série, agora bastante conhecido na sociedade em geral, é dedicado a formas de sexualidade que, historicamente, foram definidas como perversas e abusivas.
A vergonha perdida não só é documentada nas vendas sem precedentes da série em forma de livro, mas também pela celebração do filme nos cinemas.
Uma cultura que está determinada a reduzir toda a moralidade sexual à questão do consentimento adulto está agora pronta para comer pipoca enquanto assiste à corrupção do presente do sexo e, com efeito, a concessão de autorização para a visão da sexualidade que é própria essência do filme.
Esta próxima etapa na evolução de pornografia combina, de maneira inédita, as pornografias visuais de orientação masculina a pornografia narrativa – que tem “orientado” tantas mulheres. O filme está sendo comercializado como uma aventura para casais – algo oferecido para homens e mulheres.
Este material é uma mentira. O falecido senador norte-americano Daniel Patrick Moynihan falou de nossa tendência para “definir desvios”. Essa é uma das marcas da nossa idade. O filme “50 Tons de Cinza” não será legalmente definido como obscenidade ou pornografia. Em nossa época, quase nada é assim definido. Mas biblicamente falando, não pode haver dúvida sobre o fato de que o fenômeno “50 Tons” é explicitamente pornográfico – definido no Novo Testamento pela palavra grega “porneia” – que se refere diretamente a qualquer impulso ou ato sexual ilícito. Pornografia, qualquer que seja a sua forma, se destina a produzir esse impulso sexual ilícito.
Ver o filme ou ler a série de livros é um exercício de intenção e efeito pornográficos. Ele também é um ato de desafio contra a bondade do presente do sexo como concedido à humanidade por Deus. Além disso, a série é uma agressão à dignidade de cada ser humano.
A perda de vergonha na sociedade moderna é defendido como um sinal de progresso cultural em muitos círculos e como um passo à frente em saúde mental por muitos terapeutas. Mais do que qualquer outra coisa, no entanto, ele aponta para a profundidade da confusão que inevitavelmente acompanha a corrupção dos dons de Deus.
O Cristianismo celebra a unidade do bem, o belo e o verdadeiro no próprio Deus. Em obediência, devemos buscar unificar o verdadeiro, o belo e o bem em nossos corações e mentes – e em nossos corpos.
Autor: Albert Mohler
***
* A sexualidade humana na visão da Igreja Católica.
As abordagens da doutrina da Igreja Católica sobre a sexualidade possuem sempre o mesmo pano de fundo: entendê-la como fator que afeta profundamente a identidade do ser humano e a ele conferem as características – biológicas, psicológicas e espirituais – que o fazem homem e mulher.
O tema é foco de acalorados debates e discussões e já foi abordado largamente em documentos do Magistério. “A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma função que tem a ver com o desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva. Vemos isto, hoje, em muitos exemplos da nossa sociedade”, disse o Papa Bento XVI na Carta aos Seminaristas após o Ano Sacerdotal.
Segundo o médico italiano e membro da Secretaria Internacional do Movimento Famílias Novas, Raimondo Scotto, autor do livro O Amor tem mil faces, “a sexualidade não é uma dimensão acessória, mas um componente fundamental do ser humano, que diz respeito a toda a pessoa. […] A sexualidade influencia todo o tipo de ação e comportamento da pessoa, dando um caráter próprio às personalidades masculina e feminina de qualquer ser humano. Ela estende a sua influência inclusive à dimensão espiritual da existência. Assim, a sexualidade não é uma coisa agregada ao corpo, um atributo seu, mas é uma realidade intrínseca a cada ser humano, uma dimensão que perpassa toda a sua existência”.
A “Declaração Persona Humana sobre alguns pontos de ética sexual”, da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), explicita que, “mesmo entre os cristãos, pontos de doutrina, critérios morais e maneiras de viver, até há pouco fielmente conservados, no espaço de poucos anos foram fortemente abalados; e são em grande número hoje em dia aqueles que, perante tantas opiniões largamente difundidas em oposição com a doutrina que eles receberam da Igreja, chegam a perguntar-se o que é que devem ainda manter como verdadeiro”.
Nessa perspectiva, vale perguntar: O que a Igreja realmente pensa e ensina sobre a sexualidade?
Documentos de interesse

Principais pontos
O doutor em Teologia Moral e coordenador nacional do grupo de reflexão sobre problemas morais da CNBB, padre Rafael Durán, explica que o documento “Sexualidade humana: verdade e significado”, do Pontifício Conselho para a Família (PCF), aborda a sexualidade como dom. “Ser homem ou mulher é uma graça imensa. A obra criadora de Deus coloca em cada um de nós uma identidade própria”, afirma.
O padre elenca três pontos centrais:
1 – Deus nos cria e, ao nos criar, nos dá um corpo, que é templo, fala, ilumina a caminhada de todos os seres no mundo. Aqui destaca-se o valor sagrado do corpo;
2 – Homem e mulher Deus nos criou: aqui está riqueza de toda antropologia (modo de entender o homem) cristã. É o valor de cada um poder manifestar a sua sexualidade como dom e, ao mesmo tempo, expressar a sua riqueza de forma harmoniosa, celebrativa, redescobrindo o valor do ato conjugal como gesto responsável em meio a uma sociedade em que as relações pré-matrimoniais tomaram conta;
3 – Castidade. Não somos feitos para o corpo, mas para a glória. Esse ponto somente pode ser entendido a partir da vivência gloriosa, mas humana e lutada, da castidade. “É maravilhoso encontrar batizados que descobrem alegria de serem castos pelo Reino. Para mim, aqui estaria o verdadeiro desafio do século XXI: retomar o tema da castidade, afiançar o valor do corpo como doutrina essencial, a dimensão do corpo salvífico”, afirma padre Durán.
Declaração Persona Humana – esclarece que, com relação à ética sexual, “tais princípios e tais normas não têm, de maneira nenhuma, a sua origem num determinado tipo de cultura, mas sim no conhecimento da lei divina e da natureza humana. Não podem, portanto, ser considerados como algo caducado, nem postos em dúvida, sob o pretexto de uma nova situação cultural”.
1 – Como saber quando um ato sexual é moralmente aceitável? O documento explica: “é o respeito pela sua finalidade que garante a tal ato a própria honestidade. Este mesmo princípio, que a Igreja deduz da Revelação divina e da sua interpretação autêntica da lei natural, fundamenta também aquela sua doutrina tradicional, segundo a qual o uso da função sexual não tem o seu verdadeiro sentido e a sua retidão moral senão no matrimônio legítimo”;
2 – Relações sexuais pré-matrimoniais – não basta ter uma “afeição já conjugal” pela outra pessoa. A doutrina cristã ensina que é no contexto do matrimônio que se deve situar todo o ato conjugal do ser humano. “É uma união estável aquela que Jesus quis e da qual ele estabeleceu as primeiras exigências, tendo como ponto de partida as diferenças sexuais”;
3 – Masturbação – salienta-se que, muitas vezes, nega-se que tal ato constitua uma desordem moral. Até mesmo algumas áreas da psicologia e a sociologia defendem que é um fenômeno normal da evolução da sexualidade. A Igreja explica que, seja qual for o motivo que o determine, “o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz essencialmente a sua finalidade”. Falta a relação de doação recíproca num contexto de autêntico amor;
4 – Castidade – não significa apenas evitar as faltas anteriores, mas aspectos muito mais positivos e elevados. “Em todo e qualquer estado de vida, a castidade não se reduz a uma atitude exterior; ela deve tornar puro o coração do homem. […] É uma virtude que marca toda a personalidade no seu comportamento, enobrece o ser humano e capacita para um amor verdadeiro, desinteressado, generoso e respeitoso para com os outros”.
Como vivê-la? “Os fiéis devem empregar os meios que a Igreja sempre recomendou para levar uma vida casta: a disciplina dos sentidos e da mente, a vigilância e a prudência para evitar as ocasiões de quedas, a guarda do pudor, a moderação nas diversões [arriscadas], as ocupações sãs, o recurso frequente à oração e aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Os jovens, sobretudo, devem ter o cuidado de fomentar a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus e propor-se como modelo a vida dos Santos e daqueles outros fiéis cristãos, particularmente dos jovens, que se distinguiram na prática da virtude da castidade”.
“Orientações educativas sobre o amor humano – linhas gerais para uma educação sexual”, da Congregação para a Educação Católica (CEC) – destaca quatro pontos de especial relevância:
1 – A sexualidade é um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Portanto ela é parte integrante do desenvolvimento da personalidade e do seu processo educativo;
2 – A sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual marcando toda a sua expressão. Esta diversidade que tem como fim a complementaridade dos dois sexos permite responder plenamente ao desígnio de Deus conforme a vocação à qual cada um é chamado;
3 – A genitalidade orientada para a procriação é a expressão máxima, no plano físico, da comunhão de amor dos cônjuges. Fora deste contexto de dom recíproco – realidade que o cristão vive sustentado e enriquecido de maneira particular pela graça de Deus – ela perde o seu sentido, dá lugar ao egoísmo e é uma desordem moral;
4 – A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor que é o único a torná-la verdadeiramente humana. Preparada pelo desenvolvimento biológico e psíquico, cresce harmonicamente e realiza-se em sentido pleno somente com a conquista da maturidade afetiva, que se manifesta no amor desinteressado e no total dom de si.
Fonte: Canção Nova

Nenhum comentário:

Postar um comentário